quarta-feira, abril 25, 2007

Esporrei na manivela

Esporrei na manivela

Dias atrás, estava eu no ônibus lotado (como sempre), voltando para casa. Entre uma mp3 e outra, ouvi um comentário do cobrador: "O povo gosta de ficar parado na porta achando que é a pessoa mais importante do mundo". Olhando para a cara do resto do gado, eu tive a leve noção do que é ser vítima de um comentário em público. Todos se ressentiram, deram aquele mínimo passo para o fundo do sarcófago e se abriu um vácuo em frente à catraca. Paguei, passei e fiquei lá, parado na porta. Logo, uma senhora que esperava para descer no próximo ponto, solta a pérola: "Essa juventude não se toca!". Eu adorei. Quase tive um orgasmo. O dia no trabalho tinha sido tão "leve", que eu precisava armar uma confusão.

- Senhora?
- Hmmm... é! Você não ouviu o moço pedindo pra sair da porta?
- Eu não estou na porta.
- Está sim! Atrapalhando a passagem dos outros!

- Mas ninguém está "passando"! O ônibus tá lotado, não tenho pra onde ir!
- É! Hmmm... é! Que isso, viu...!
- Vem cá, isso tudo é raiva por ser velha?
- Olha o respeito, garotinho!
- A senhora podia muito bem ficar na frente, nem pagar pra andar de ônibus. Tem assento lá, só pra gente velha. Ainda passa pro fundo do ônibus pra falar besteira? Faça-me o favor!

- Olha o respeito, menino! Mal educado! Grosso!
- Jovem! Olha o respeito, senhora!


Umas 2 pessoas do meu lado riam e comentavam baixinho: "Agora vai!"

- Eu trabalho o dia inteiro, pego ônibus lotado e ainda tenho que agüentar esse moleques sem educação desrespeitando a gente! É um absurdo!
- A senhora tá vindo do trabalho?

- Claro! Eu não sou igual a você!
- Como? Jovem, que na sua idade vai estar em casa sem ter que trabalhar? Puxa!
- Cala a boca, moleque!
(aqui ela já estava quase voltando a ser jovem)
- Ah, tia... dá um tempo... quer ficar no meu lugar? Fique, caralho!
- Palavrão!
- Caralho não é palavrão... é uma coisa que a senhora não deve conhecer, ou se lembrar, vai saber...

Nesse momento, uns caras do fundo me mandaram calar a boca, senão eu iria apanhar.
Mas foi deveras bacana. Gente velha legal, eu só conheci o Boris Yeltsin.
Na hora de descer do ônibus, já sem a anciã, o cobrador me disse:

- Ae, cara... valeu...- Porra, velha chata, po...
- Vai por mim, ela não trabalha. Ela pega ônibus lotado todo dia pra ser encostada!

- !!!
- Sério... eu já vi ela se deleitando com uns caras aqui...
- Essa juventude...

Agora, virei amigo do cobrador e desço sempre pela frente.
Atrapalhando os velhinhos que querem descer mostrando só o RG.
Ser jovem é rock!

terça-feira, abril 17, 2007

Update-me

Update-me

Ah! A vida proletária... nada é mais massacrante e delicioso do que trabalhar um mês inteiro e receber aquela porcaria de salário no dia 30. Metade pra bebida, metade pras dívidas...
Meu tempo anda meio escasso para isso aqui. Quase chego a ter orgulho de escrever isso. Mas vou deixá-los atualizados:

Vida profissional:

Vai bem, obrigado. Trabalho mediano é minha área, sem dúvida! Rotina, salário de brasileiro, uma beleza. Bem, meu chefe me adora. Ele ficou sabendo que minha nota no inglês foi a maior que a empresa já teve até hoje e veio na minha mesa me dar os parabéns. Inflou meu ego, aguçou ciúmes de outros e me rendeu 2 cervejas.

Vida pessoal:

Vai bem, obrigado. O pouco tempo livre que tenho, gasto dormindo e saindo com os amigos. Bebendo, fumando, dando risadas e inventando histórias para fazer os desconhecidos darem risada. Semana passada, fui ao show do Aerosmith: eu sou fã da banda desde meus 12 anos. Foi legal ver aqueles velhotes tocando com a energia de adolescentes e tocando as músicas que me fazem lembrar o tempo do colégio que eu era apelidado de "viadinho".
Domingo eu fui para a praia com uns mal-acabados, bebi mais e peguei bastante sol - para contrabalancear o futuro câncer no pulmão. Na volta, encontrei umas amigas da faculdade, tomei mais umas garrafas e fui dormir feliz.

Vida amorosa:

Encontrei o que procurava a vida inteira. Tá todo dia comigo, me faz rir e ter momentos agradáveis até em um ônibus lotado, às 18h em São Paulo. Todos deveriam - urgente - comprar um mp3 player de 1 GB.

domingo, abril 08, 2007

Diálogos de Páscoa

Diálogos de Páscoa

Eu e Feijão, quase chegando em casa:

- Ow, tio! Posso lavar o vidro?
- Não, não... valeu!
- Beleza! [moleque começa a "lavar"]
- Nããão, porra! Não precisa... ai, caralho...
- Calma, Feijão... deixa o moleque ser feliz...
- Mas eu não tenho um trocado sequer!
[Na frente do nosso carro, uma moto atropela um outro moleque, de uns 18 anos, lavador de vidros]
- Ei-ta Por-ra!
- Caralho, Feijão!
- Mano!
- Você conhece ele?
- É meu irmão! Caralho, fodeu! Ele fodeu o pé! Olha lá!
- Leva ele pra um hospital, sei lá...
- Não posso! Vão prender ele!
- Ahn... tá... por quê?
- Ele tava na Febem e fugiu... minha mãe nem sabe que ele saiu de lá ainda! Ela é doente!
- Anh...
[Abre o semáforo, ou farol, ou sinaleira, ou seja lá o que for]
- Po, foda, moleque... se cuida, hem! Vai lá ajudar seu irmão!
- Tem como me arrumar um dinheiro?
- Putz, mano... estamos sem um puto sequer...
- Ah... por favor, cara!
[Pego um cigarro e ofereço pro moleque de uns 12 anos]
- Po, eu nem fumo!
- Olha, me parece uma boa hora pra começar!


Legendas:
Moleque lavador de vidros
Feijão
Eu

segunda-feira, abril 02, 2007

Onion Rings

Onion Rings

Uma das coisas mais legais de se dizer nos dias de hoje, é que o casamento é uma instituição falida. O bacana é ir morar com a pessoa, juntar os trapos, ocupar uma saleta e rachar as contas. Ora, isso não é coisa de gente falida? Eu entendo, afinal, o mundo moderno é imediatismo, mesmo. Vai que não dá certo. Daí, tem todo aquele carão com a família, devolver aliança, quebrar a hipoteca. Casamento é um coisa até que compreensível. O que não dá pra enteder muito a utilidade, é o noivado. É um pré-contrato, que por mais incoerente que seja, nenhuma das partes assina nada. O único trato é permanecer afastado do sexo casual com outras pessoas a não ser aquela que lhe pediu em... noivado. Começam os planos dos bonequinhos do bolo: juntar dinheiro, comprar enxoval (juro que essa é uma das coisas mais bregas), avisar todos os amigos e marcar uma comemoração do... "contrato". No fim das contas, noivado é igual cheque pré-datado, só existe no dito popular. Eu já quase fiz uma coisa dessas. Mas eu tinha 20 anos, o Brasil tinha acabado de ser Penta e rabinos ainda não roubavam gravatas para noivados. Só não entra na minha cabeça de homem solteiro o real intuito disso, não mais.
Ultimamente, dois "amigos" meus entraram pro time dos noivos. Um, não quer me ver nem pintado com as cores da Rainha, já que não vou com a cara da noiva dele. Outra, resolve me ligar às 8:30h da matina pra avisar que, a partir de agora, vai rasgar e dar fim a tudo que diz respeito a mim, já que o noivo acha isso um insulto. Porque saber que a pessoa que você ama e agora carrega um argola de metal no dedo, já gastou argola com outra pessoa, realmente deve ser um tanto quanto broxante. Vai saber.

Só sei que, com certeza, não serei convidado pra nenhuma festa dessas. Até porque eu costumo beber demais em casamentos, não vou de gravata e sempre dou em cima das madrinhas. É o momento que essas pessoas ficam mais frágeis, todo aquele sonho, aquele frenesi.

Resumindo: vale mais a pena passar um cheque pré-datado. Pelo menos é um contrato entre cavalheiros.
Touché.