sexta-feira, abril 17, 2009

Ele não sabe o que quer

A prova de que, algumas vezes, criar a placenta é mais vantajoso

"Deus mata tanta criancinha boa ainda no berço e me deixa crescer só para ter um pouco mais de trabalho? Esse cara só pode ser um brincalhão!". Esse é o estilo de Rafael Magalhães, também conhecido em toda a galáxia como Koelho, apelido usado desde a infância e quando foi baixista do Seven Elevenz por nove anos - seis deles, também assumindo os vocais -, até Junho de 2008, quando a banda acabou. "Cada um tinha uma visão diferente da banda, um comportamente diferente. A única coisa que tínhamos em comum é que achávamos que a banda já tinha rendido tudo o que tinha pra render", comenta Koelho. O blog Acnóide, desde 2001 no ar, possui um extenso arquivo de textos relacionados ao nada ou, simplesmente, sobre qualquer coisa que o autor deseje postar, de comentários sobre seu cotidiano até política, passando por conceitos morais, interpretação de letras de músicas, entre outros. "Eu já consegui até emprego por causa do blog, mas hoje em dia tenho uma preguiça absurda de atualizar aquilo. Acho que umas dez pessoas o acessam, mas como não faço nada de novo por lá, eles acabam não voltando. É quase como um coma profundo. Quando as visitas acabarem de vez, desligo os aparelhos", explica o blogueiro. Mesmo assim, esse não é o fim do Acnóide. "Posso dizer que ele partiu jovem, mas deixou filhos", comenta entre risos, em referência a sua coluna no site Bubblegum Attack, sob a mesma alcunha do famigerado blog. A proposta inicial era comentar e polemizar sobre os acontecimentos na cena "punk rock bubblegum" nacional, mas com o tempo, as atualizações ficaram cada vez mais escassas. "As novas bandas até que são boas, mas não se comparam com as bandas do início dessa década. Claro, puxo a sardinha para o meu lado, mas é triste ver que muito do que se faz hoje é uma cópia descarada de bandas medianas de menos de dez anos atrás", diz Koelho, completando que "o Seven Elevenz acabou justamente por isso, não queríamos soar a mesma banda durante muito tempo. Quando pensamos em mudar algo, já estávamos de saco cheio".

Virado no Jiraya

Há algo nesse futuro vestubulando que é uma constante: a inconstância. "Eu decidi fazer uma nova faculdade, administração. Jornalismo não deu certo, não ia dar dinheiro e iria roubas meus finais de semana e feriados pelo resto da vida", reclama. "Porém, se eu tivesse pensado nisso oito anos atrás, as coisas estariam bem mais fáceis agora", completa Koelho. Desempregado desde novembro de 2008, quando a crise abateu a editora onde trabalhava, Koelho ainda procura por uma chance em sua área, mas confessa que não tem mais tanto prazer no que faz. "Eu sempre reclamei de meus empregos anteriores, todos eles. Meus chefes eram canalhas, pagavam mal, alguns nem pagavam. Quando achei uma mercenária que pagava bem, ela me registrou e me mandou embora tão rápido que eu nem tive o gosto de curtir o seguro desemprego. Mas não deve ter sido o fato de eu discutir com ela sobre assuntos imbecis que ela queria que virassem reportagens... deve ter sido a crise, mesmo", analisa de forma cafajeste. O mais estranho de tudo isso, é que Koelho sempre foi péssimo em matemática e, agora, pretende fazer um curso onde a matéria permeia praticamente toda a grade. "Meus cadernos de matemática, na época do colégio, sempre foram os de capa vermelha, porque eu considerava que era a cor do inferno", comenta. "Mas isso não quer dizer que seja algo tão ruim que eu não consiga me dar bem. Eu gostava de jornalismo e foi uma bosta, de que me adianta colocar problema em uma coisa que eu sequer experimentei? Acho que serei um bom administrador, já que adoro estar sempre certo e de mandar nas coisas", explica o narcisista. Já sofrendo os abalos do desemprego, Koelho sobrevive por esmolas dos pais e, de forma provisória, apoiado pela namorada. "Ela sim se deu bem. Se formou na mesma coisa que eu e pulou fora quando viu que era uma porcaria. É minha heroína", confessa o paga-pau apaixonado. "Hoje em dia, me pagando mais de R$ 800 por mês eu estou aceitando qualquer coisa. Mas, assim, como já dizia o Gil, ex-jogador do Corinthians: 'Só não vale dar o cu", completa.

Tocador

Koelho, pelo que aparenta, ainda não desistiu de ganhar dinheiro para poder pagar suas futuras pontes de safena e transplante de fígado. Também não desistiu de conquistar o mundo com o rock e seu talento inegável para a idiotice. "Toco baixo e faço backing vocal no Bicordes, uma banda de 'punk rock 77'; e sou vocalista de uma banda chamada The Opponents, que é mais na linha bubblegum que eu conheço mais", explica o baixista. "Mas, nessa segunda banda, eu sou apenas vocalista, sua anta!", avisa o cavalo. Koelho alerta que sua inconstância é tanta que nem mesmo sabe se vai continuar tocando em duas bandas ao mesmo tempo. "Não sei nem se vou tocar em alguma delas ainda, na verdade. Sou bom demais para isso", conclui Zeus.

Marcadores: , , ,