Enquanto isso, na Sala de Imprensa
Enquanto isso, na Sala de Imprensa
Se tem uma coisa legal em fazer cobertura de eventos - são poucas coisas legais -, é a parte dos comes e bebes. Sempre me esbaldei na boa parte dos seminários e palestras que fui: refrigerante, café, sucos, salgadinhos e almoços de graça, tudo que possa agradar e amolecer o mais duro dos jornalistas (duro no sentido literal e financeiro da palavra). Porém, na semana passada, sofri meu revés. Eu já estava achando que um evento focado 100% em mobilidade digital ia dar no saco, mas deu no cu.
Tenho certeza que foi a mistura matutina de pão de queijo, quiche e suco de laranja, pois ao meio-dia eu estava mais abatido do que a Amy Whinehouse. Pensando ser uma simples queda de pressão ou falta de açúcar no organismo, fui para o boteco ao lado da Amcham e tomei uma coca-cola. Aquilo subia e descia no meu estômago mais do que a variação do dólar e fui ficando mais zonzo ainda. Desisti de cumprir com meu dever no resto do dia e liguei para minha namorada, que estava de férias.
- Má, tudo bem? Ahm... você se importa de vir aqui me buscar?
- Ah? Sim, tudo bem! Que horas?
- Pode ser agora? Tô passando mal e (blá blá blá).
- Nossa, coitadinho! Vou só trocar de roupa e já chego aí!
Entendo que garotas demoras para se arrumar (...). Quarenta minutos depois eu já pensava em lançar o primeiro jato de suco estomacal no capô do carro dela, de tanto atraso, mas o resgate disfarçado de Celta vermelho chegou. Fui ao hospital, usar meu convênio que... que eu não sei para que tenho.
- Oi. Seguinte, tô passando mal, mesmo. Preciso ficar nessa fila toda e pegar a senha?
- ...tem que pegar a senha.
- Puta que pariu...
- Pega a senha e fala com aquela moça do atendimento.
[se eu vou furar fila, para que senha?]
- Oi. Seguinte, tô passando mal. Preciso passar no médico...
- Clínico geral?
- ...qualquer um, minha filha...! [pode ser até um veterinário, porra!]
Subi para o primeiro andar, que para minha alegria ficava no segundo - alguém me explica para que serve um andar chamado mesanino?! - e aguardei ser chamado. Por 15 minutos. Finalmente, minha vez.
- O que o senhor sente?
- Dor de estômago, tontura, náusea, dor de cabeça...
- Fuma? Bebe?
- ...eu estava trabalhando e comi algumas besteirinhas...
- Mas fuma? Bebe?
- ...é.
Fiquei por outros quarenta deliciosos minutos deitado numa maca, tomando medicamento na veia e jogando golf no celular. Na hora de ir embora, notando meu desespero por conseguir um atestado e ir para um local que não cheirasse a patologias, a médica ainda quis ser bacana comigo. "- Então, tá na hora! Vamos para casa? Hihi!". A última coisa que eu queria era aquela biscate do meu lado pelo resto do dia, mas respondi com um sorriso de doente e me mandei.
Quando cheguei em casa, desmaiei na cama e acordei 3 horas depois, já correndo em direção do banheiro para vomitar e... bem, quando eu falei sobre o cu, vocês entenderam. Foram dois dias de agonia. Agora, estou cobrindo o Futurecom 2008, perto de casa. É um evento recheado de gente rica e sagaz, donas das linhas de telefone celular que vocês têm - qualquer operadora, pode confiar. São daquelas pessoas que dão risada quando você cita pesquisas que apontam que pessoas com vencimentos acima de R$ 8 mil mensais, no Brasil, são consideradas ricas. Para eles, isso é um absurdo (ganhar menos de R$ 15 mil, quem sabe).
O legal de eventos onde além de palestras e seminários tem espaço para exposição dos produtos, é que sempre contratam garotas de programa expositoras super bem educadas, que sorriem a todo momento e distribuem brindes bacanas (leia-se sacolas enormes recheadas de nada e canetas sortidas). O triste é que na Sala de Imprensa, onde temos que ficar boa parte do tempo, não entra nenhuma. Entra de tudo - faxineiras, assessores (que na minha opinião, não são jornalistas), equipes técnicas e blogueiros famosos. Gente bonita, nunca. Não que eu fique olhando, claro - sou um homem de família e quase míope para outras fêmeas -, mas a gente repara...
Essa praga acaba amanhã e já estou contabilizando meus gastos com Dorflex - pelas caminhadas constantes, refeições de 10 minutos e contratação de catadores de papel - porque essas empresas ricas e bacanas falam muito do conceito "Go Green", mas gastam Amazônias de papel para divulgar suas parafernalhas tecnológicas.
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