segunda-feira, janeiro 19, 2009

Sangue de louco

Sexta passada, no meio da tarde, meu amigo Rangel me ligou:

- Ô, vamos doar sangue hoje?
- Hmm... vamos, por que não? Onde vamos?
- No Hospital das Clínicas!
- ...não tem lugar mais perto? Po, isso é na Zona Oeste, quase centro!
- Mas amanhã é "Dia de Corinthiano doar sangue"!
- ...e? Hoje é hoje, amanhã é amanhã.
- Mas hoje vai estar mais vazio e a campanha já está valendo! É lá que estão doando!
- Ah, cara, que besteira! Como vão saber se somos corinthianos? Como vamos saber que nosso sangue será realmente doado a corinthianos?
- Mas o sangue vai pra qualquer um!
- Até para palmeirense? Mas que porra então é essa de "dia de corinthiano doar sangue"?
- Você ganha um suco e um lanchinho depois!

Já doei sangue um par de vezes. Na primeira, foi para um amigo que estava precisando, em função de uma leucemia - que o vitimou, por sinal. Na segunda fui de livre e espontânea vontade (leia aqui - faltar no trabalho justificadamente com um atestado válido). Nas duas vezes, tive de passar pela entrevista onde fazem trapos da sua vida parecerem bandeirões de estádio.

- Você usa ou já usou drogas?
- Ahm, já sim.
- O quê (moleque maldito, corinthiano maloqueiro, marginal!)?
- Maconha...
- Só isso?
- Só!...
- E parou quando?
- Foi em 2006.
- Era viciado, então?
- Não! Po, foi uma vez, em 2006! Eu acho que era 2006, digo...
- Maconha faz isso, mesmo.
- Err...
- E sexo? Está namorando, ficando, saindo? É casado? Tem filhos?
- Oi? Ah, sim... e não... não...
- Com quantas pessoas você se relacionou nos últimos 12 meses?
- [pausa dramática de 8 segundos]... 3.
- Alguma delas era promíscua ou tinha alguma doença sexualmente transmissível?
- Tomara que não!

Enfim, você vê quem é macho de verdade em uma sala de doação de sangue. Eu mesmo vi uns marmanjos de dois metros de altura suando frio, quase desmaiando na maca e pedindo suco de manga - que por sinal era bem gostoso.

Careca fila-da-puta:
- Estende o braço e fecha a mão.
- Ok...
- Você é corinthiano, não? Veio pela campanha?
- Ah, sim, isso mesmo!
- Que bom que amanhã eu não vou vir trabalhar...
- Putz, imagino... vai estar cheio demais, aquele bando de gente junta e...
- ...não dá pra vir de relógio, carteira, tênis.
- Ha-ha-ha... é, verdade.
- Esse tênis é seu, né?

Só fiquei com pena do corpo de bombeiros que foi trabalhar no Estádio do Pacaembu no dia seguinte. Dizem que você não pode ingerir bebidas alcoolicas até 12 horas depois da doação, e a torcida ia ao hospital 2 horas antes do jogo do Corinthians. Eu assisti o jogo pela TV e não vi nenhum corpo rolando pelas escadarias do estádio, portanto, creio que a campanha tenha sido um fracasso, ou que os torcedores tenham sido sinceros demais na entrevista e sumariamente limados da doação.

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sexta-feira, janeiro 09, 2009

Vida cigana

Vida cigana

Para não fugir da regra: "E aí, pessoal! Como foram de virada?". Não que eu esteja muito interessado em saber, mas... sabe como é... vai que aparece um conto erótico nos comentários... Enfim, pela segunda vez seguida, passei o fim de ano em Ubatuba - SP, mais precisamente na praia de Itamambuca, recinto de surfistas, loiras parafinadas e casas de R$ 600 mil. Para ser exato, fiquei mais uma vez acampado, no Camping do Tio Gato. Com excessão no nome bichístico, o lugar é bem legal, afastando da cabeça de muitos a idéia de que acampar é a mesma coisa que cagar no mato e limpar a bunda com folha de urtiga. Já no caminho, durante as deliciosas 5 horas de trânsito, pensei que a viagem seria uma porcaria, uma vez que eu e minha patroa discutíamos de maneira singela do carro, só comparado aos diálogos entre Silverinha e Flora. Passada a tormenta, chegamos ao local após a chuva passar. Meus amigos que quiseram ir um dia antes, pegaram 14h de clima molhado, ou seja, se foderam. Montaram nossa "aldeia" debaixo d'água, dormiram na umidade, sujaram os pés na lama, e quando cheguei, tive apenas que armar a barraca (pescou? pescou?) e dormir. Na manhã seguinte, sol... e na outra, e na manhã a seguir, até o dia 1.

Acampar é uma situação extrema. Você realmente se sente pobre. Come pão com qualquer coisa quando bate a fome, reaproveita copos descartáveis, limpa os pés antes de deitar, convive com barulho de mosquitos e funk dos carros estacionados próximo ao seu barraco. Isso, sem contar com a maravilha que é tomar banho frio, já que dos 10 chuveiros disponíveis no banheiro masculino, apenas 2 são de água aquecida (e leia "aquecida" mesmo, porque minutos depois de entrar debaixo da ducha, ela esfria, de novo). Pelo preço, vale a pena. A refeição demora cerca de 20 minutos para ficar pronta na lanchonete e o pão na chapa dá a noção do que é um café da manhã na faixa de Gaza.

No terceiro dia, uma das criaturas inúteis que Deus colocou no mundo, um inseto, picou meus pés. Sim, pés, pois picou os dois. Nos dias seguintes, parecia que eu tinha uma lajota no lugar dos meus amados pisantes, mas nada que a bebedeira quase que constante e a água do mar não curasse. Por sinal, a água do mar não fica tão perto do camping, também. É preciso caminhar 300 metros até chegar na praia. Por uma estrada de terra. Estrada de terra que havia recebido chuvas generosas antes de chegarmos. Delícia de vida. No último dia de estada, eu pude ter a honra de conseguir uma foto, meio desfocada, de um lagarto. Não daqueles que caem das árvores em cima de você quando se tem 5 anos de idade e seus amigos gritam: "Fodeu, é lagarta de fogo!", mas daqueles que parecem o Godzilla. Foi a coisa mais bacana de toda a viagem.

De resto, ainda estou desempregado, agora já praticamente falido e... bem, pelo menos eu aprendi a usar o cabo HDMI na minha televisão com o Xbox 360 e aquela função super bacana de assistir 2 canais ao mesmo tempo.... tomara que 2009 seja um ano com novidades mais interessantes do que essas.

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