quarta-feira, março 24, 2010

Vamos ser amigos?

Uma das coisas que mais me incomoda na dialética dos "providos de senso crítico" é o suposto rancor e, em algumas ocasiões, ódio que as pessoas demonstram por quem gosta ou se interessa pelos chamados "reality shows", sejam eles quais forem. Que é algo fútil, de pouco valor cultural e que acrescenta bem menos às vidas das pessoas do que elas desejam, é um fato. Mas isso não significa que seja uma "imbecilidade", ou um programa que expõe os participantes ao ridículo. No dia a dia de qualquer ser humano que se valha do mínimo de coerência, vivemos situações muito mais traumáticas e vergonhosas do que as demonstradas em rede nacional, e pior: mal percebem isso.


Quem aqui nunca participou de uma entrevista de emprego? Para não dizer todos, há aqueles que sequer procuram trabalho, mas como é só o Barata, pulemos. Nessas verdadeiras experiências de laboratório, os candidatos, ávidos por um salário - normalmente, de fome - e de uma posição social que os leve a um patamar aceitável em sua rede de contatos, passam por situações patéticas, criam laços artificiais com os outros candidatos por pura hipocrisia e costumam bajular quem quer que seja o empregador. Ora ora, isso é exatamente o que ocorre em qualquer reality show que coloca à prova a convivência entre pessoas, até então, desconhecidas. Certo? Ok. Sigamos.

Eu mesmo já passei por isso por mais de uma vez. Você se veste como um embrulho de presente, daqueles bem "jogo de lenços", e vai, com um papel debaixo do braço - onde você listou todos seus predicados pessoais e profissionais -, para ser sabatinado por alguém que não mantém o menor apreço por você. É alguém contratado especificamente para aquilo: julgar se você presta ou não presta. Se o que ele tende a considerar é real ou não, o problema não é dele, muito menos as consequências. O que ele decidir, é.

Percebam como, ainda na microsala de espera de qualquer processo seletivo, algumas pessoas já demonstram ter mais ou menos apatia ao grupo: normalmente, duas mulheres começam a conversar, e fazem de tudo para que o máximo de pessoas possíveis se unam àquela discussão, quase sempre, fútil. Alguns, como eu, afundam o rosto em alguma revista de três anos atrás.
O assunto pode ser a demora para serem chamados, o calor, o trânsito para chegar até o local, o salário, a empresa. Tudo, qualquer coisa, menos algo que realmente vá acrescentar algo em suas vidas. Já na sala de seleção, ao prêmio de obter um emprego, dançam, cantam, contam assuntos particulares extremamente desnecessários de suas vidas e, claro, colocam-se diante o entrevistador (carrasco) como sendo melhor do que os outros. Ali, compete-se com negros, brancos, homossexuais, héteros, racistas, humanitários, gordos, magros, feios, belos, altos e baixos. Cada um com seu valor, seja ele qual for. Independente de qual seja, evidente, deve ser sempre menor do que o seu.

Os laços criados nessas situações são frágeis e irreais quanto fios de ovos. Se a coisa esquentar demais, simplesmente, desaparecem. Assustador ou não, as pessoas ainda costumam sair dessas entrevistas de emprego querendo manter contato com seus competidores, incentivando a troca de contatos, sabe-se lá para quê. "Te espero lá fora/ Me adiciona no Facebook / Anota meu celular".

Ou seja, você, caro leitor, que costuma achar o Big Brother Brasil como algo inútil, aculturado, desnessário e inócuo, preste atenção: você já deve estar fazendo parte dele a algum tempo.

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quarta-feira, março 17, 2010

O Koelho dos ovos de ouro

Não bastasse a minha total falta de assunto, inspiração, paciência, tempo e criatividade lasciva para escrever algo digno neste blog, em questão de 2 dias, arrumei um freela onde terei de redigir uma revista inteira (teria até de entrevistar a antiga morena do Tchan, Ms. Sheila Carvalho), e descobri que estou com caxumba. Sim, caxumba. Sabe aquela doença imbecil que você deveria pegar aos 10 anos de idade, e não aos 26? Então, essa mesma. E olha que sempre fui vacinado contra todas essas doencinhas dignas de pivete: catapora, sarampo, rubéola, paralisia e afins.

Lembro de acordar no sábado e, ao chegar na sala, me deparar com o ex namorado de minha avó - Tereza From Hell -, tomando um cafézinho e acareciando meu rosto, dizendo: "Nossa, como você engordou!". Pra falar a verdade, ele não disse isso. Disse: "Paiáááá, você 'gordô, ehhhh!, já que o derrame que o velho teve impede que ele balbucie mais do que algumas sílabas e palavras desconexas. Ainda no mesmo dia, sai com a @marcy_nha para ir ao cinema, pois ela ganhou dois convites para assistir ao filme O Lobisomem. Porém, como os vauchers eram válidos apenas de segunda a quinta, acredito que nosso cineminha ficará para outra oportunidade ou para uma data distante, já que ela nunca teve a doença e que, quando eu me recuperar, daqui a uns 10 dias, o filme já estará fora de cartaz. Aproveitamos que já estávamos na rua mesmo e fomos beber, já que estamos na fase da engorda desde 2001.

Só percebi o inchaço no rosto quando já era manhã de domingo, mas imaginei que fosse pela mistura de tipos de cerveja ingeridos no Tortula. Ainda passei a tarde com dores no corpo, mas liguei isso ao fato de ser mais sedentário do que a Elenita do BBB10. Segunda fui trabalhar normalmente, mesmo tendo o rosto em formato de pêra e, na terça de manhã, meu pai examinou rapidamente e disse que poderia ser caxumba. Até aí, tudo bem: eu ficaria um bom tempo de molho em casa, sem fazer absolutamente nada além de ver tv, comer, liberar excrementos, tomar banho e dormir. Tudo isso, sentado ou deitado na cama/sofá. Nada disso me espanta, já que tenho uma experiência bastante larga em ser desempregado. Mas, começou a parte ruim da coisa.

Assim que cheguei ao trabalho, tive que ir ao Brás, pegar o briefing do tal freela com a gerente da empresa e o rapaz do atendimento do cliente. Para quem não conhece, o Brás é a Meca dos comerciantes sacoleiros do Brasil, não sendo totalmente parecido com Meca apenas pelo fato dos milhões que circulam por ali não conservarem barbas tão protuberantes, muito menos sabem pilotar aviões ou programar bombas. Depois de mais de 2h de reunião, pegamos o carro debaixo de um sol de 30°C e tivemos de passar em outro cliente, dessa vez, para pegar "umas sacolinhas de roupas" que seriam fotografadas nos estúdios da CBC. As sacolinhas eram, na verdade, cinco sacos plásticos de 9kg. Levei 2 em uma mão, outro na outra, e o atendente levou mais uma. Carreguei aqueles montes de roupas por uns dois minutos, nada mal. Pensei que estava trabalhando o bíceps, quando na verdade estava colocando minha sacola em risco.

Fim de expediente, e após uma pesquisa na internet sobre caxumba, vi que os sintomas eram 70% do que eu estava sentindo: inchaço no rosto, além de dores nas costas e na cabeça. Estava sem febre, mas até quando? Decidi passar no PS onde e fiz os exames. Doze horas depois, o diagnóstico estava confirmado: parotide aguda. A realidade é um saco, com o perdão do trocadilho. Não se pode fazer nada: andar, ficar mais de 10 minutos em pé, usar cuecas samba canção (sim, sou um adepto da liberdade), namorar ou ter contato com qualquer pessoa que nunca tenha tido a doença. A rotina é passar o dia todo na cama ou sofá, vendo programas vespertinos sobre culinária/fofocas/policiais e dormir. Isso sem contar o desespero da doença descer para a sacola e estragar os ovinhos que não serão entregues na páscoa, mas que são meus, e pelos quais tenho muito esmero, mesmo sabendo que só fazem peso e causam dor.

Por falar nesse especial e memorável capítulo da minha vida, fiquei sabendo que o troço tem cura. Não a Caxumba, que tem mais todos sabem, mas a tal Varicocele. Não que eu tenha ficado sabendo do modo que gostaria, mas, enfim. Minha mãe comentou com a vizinha grávida que ela não pode mais frequentar nossa casa nos próximos dias, por causa da minha condição, e o tal comentário surgiu, sabe-se lá de que lado: "Nossa, tem que tomar cuidado, a caxumba pode descer pro saco e ele ficar estéril!". Daí a vizinha disse que o marido dela tinha Varicocele, até uns 5 ou 6 anos atrás, operou e... bem, o resto é história.

O mais legal foi saber que esse papo surgiu por causa do risco que meus ovos correm. E que eu havia comentado, numa tentativa idiota de tentar ser engraçado, que o hospital em que ela vai ter o bebê é o mesmo onde operei da fimose, quando tinha uns 6 anos.

Ou seja, eu ainda falo demais.
Só ver pelo tamanho desse post, 4 meses depois do blog ter sido largado às traças.

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