domingo, março 23, 2008

Aqui é Capão Redondo, "don", não Pokemon

Aqui é Capão Redondo, "don", não Pokemon

O sonho de qualquer pré-adolescente é, com certeza, ter um carro para poder jogar a carne lá dentro e cozinhar em qualquer drive-in mais próximo. O meu, sempre foi morar sozinho. Queria ter aquela liberdade de poder jogar a meia fétida no canto da sala na segunda-feira, e buscar só na quinta, colocar na máquina, estender no varal no sábado e usar, de novo, na segunda.
Pois bem, eu consegui isso. Não do modo que queria, mas levando em consideração que há 20 dias meus pais estão de férias e a casa é só minha, creio que valha como tal.
Logo na primeira semana, além de me embebedar como se o mundo fosse acabar no dia seguinte, eu fui trabalhar como de costume, voltei para casa, tomei lá minhas providências com a pia da cozinha e não tive maiores atropelos. Com excessão de quarta-feira.
Saí da revista com um pensar de encontrar duas amigas, sentar num botequim qualquer, tomar algumas cervejas e ir para casa de bucho forrado. Ledo engano. Elas encheram minha cabeça de álcool, me levaram para a casa delas e... vimos o jogo do Corinthians (esse papo que a vida de solteiro é recheada de surubas é um baita engana-trouxa). Saí de lá meia-noite, peguei um ônibus e, embriagado, tive a atitude mais responsável do mundo: dormi. Uma porção de minutos depois, me senti protagonizando as músicas do Racionais MC's, já que acordei no calmo bairro do Capão Redondo, um lugar singelo, cheio de verde, ruas estreitas e desova de corpos. Não havia mais taxis, ônibus ou putas nas ruas, e percebi que estava fodido - ou bem próximo de ser vitimado por isso. Depois de andar ao léo durante uma dezena de minutos, liguei pro único vagabundo designer free-lancer que poderia me ajudar àquela hora: Rangel.

- Cara, eu sei que a ligação é a cobrar, mas eu preciso muito de ajuda. Muito mesmo!
- Fala, o que aconteceu?
- Blablablablabla...

- Putz, Koelho, que merda... pelo menos comeu as garotas?!
- ....ô, seu viado! Vem me buscar!
- Ok, vou ver aqui no Google Maps aonde você está. Fala o nome da rua!

- É... professor Genésio... alguma coisa.
[1 minuto depois]
- E aí, Rangel. Que faço?
- Putz... cara... nossa... caralho... v0cê está muuuito longe!
- É, eu sei, te liguei por saudades. O que eu faço, buceta?!
- Segue a rua tal e vai até um cruzamento, te encontro ali.
- Mas eu to perdido, caralho! Eu nem sei aonde estou!

Quando disse isso, passaram dois caras em uma moto do meu lado, rindo e dizendo "Ae, tá fodido, hahahaha!". Eu nunca senti minha ruela mais em risco do que naquele momento. Se me matassem, até vai, mas me comer? Po, a gente tenta a vida inteira manter as 9 pregas para perdê-las em 5 minutos? Nem a pau, literalmente. Mesmo travado de medo, fui até o ponto de encontro e entrei no carro do meu herói paladino.
Cheguei no condomínio, levemente embriagado, agradeci ao vizinho mais solícito do mundo e fui em direção aos meus aposentos. Claro, se eu estivesse com chave. Acabei esquecendo esse molho de porcarias na mesa da redação, na revista, que fica - aproximadamente -, 68 km distantes de casa.

- Cara, o que você está fazendo aqui, de novo?
- Ahm, então... eu esqueci minhas chaves... e preciso dormir.
- Não acredito! Cara, tu percebeu que tá SOZINHO na sua casa?

Depois do sermão, ele me emprestou uma toalha DE ROSTO, me liberou o chuveiro SEM RESISTÊNCIA, um colchão velho e fui dormir. Isso, às 3:30h. Acordei às 6:20h, para ir trabalhar.

Creio que o negócio seja alugar um quarto na pensão mais próxima, o mais rápido possível.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial