domingo, fevereiro 11, 2007

Qual foi sua primeira frustração amorosa?

Qual foi sua primeira frustração amorosa?*

Me lembro como se fosse ontem da minha primeira excursão junto com a Escolinha Cantinho da Alegria. Eu devia ter uns 4 anos, mas já tinha massa encefálica suficiente para saber que seria a oportunidade perfeita de se aproximar de minha musa: Karen, a professora de português (ou seja lá qual a matéria em que você desenha e faz ditado, ao mesmo tempo). Ela devia ter seus 22, 23 anos. Alta (claro, eu media 1 metro, natural que a achasse alta), magra, óculos de armação fininha e cabelos pretos, levemente encaracolados, quase no meio das costas. Me chamava de Rafinha e passava a mão no meu cabelo quando eu fazia manha e queria colo. Sim, eu apelava bastante.
Quando chegamos no destino final da excursão, o planetário do Parque do Ibirapuera, fiz tudo que era possível para sentar junto dela. E consegui: sentei do lado esquerdo dela, enquanto do lado direito, sentou uma outra menina - que não me lembro o nome, mas que se dizia minha namoradinha. O problema é que eu achava aquela ruivinha sardenta "infantil demais" para mim. Oh, a soberba! Eu não gostava de brincar de pique-esconde com ela, de fazer dupla com ela nos trabalhos escolares, muito menos, de lavar as mãos antes do lanche depois dela. Sei lá porque, mas quando ela lavava as mãos, o sabonete ficava cheio de grãos de areia, áspero, nojento, e aquilo me incomodava um bocado. Bem, voltando à Professora Karen: no meio da explicação sobre o planetário, ela me disse: "Rafa, agora fica bem quietinho, que vai começar!". Eu estava mascando um chiclete e, provavelmente, fazendo barulho com o saco de salgadinho - e eu achava a ruivinha nojenta, vejam só.
Dado um momento da "viagem pelo espaço sideral", me deu uma vontade absurda de mijar. As fileiras eram bastante estreitas, bem parecidas com as das salas da USP de cursos populares, o que me impedia de sair para aliviar a angústia. Também tinha vergonha de pedir para a Karen me deixar ir. Ela estava tão concentrada, adorando aquilo tudo, não ia quebrar o clima. E segurei, segurei, segurei o quanto pude. Na minha lancheira do He-Man, ainda tinha um sanduíche de alguma coisa e uma garrafinha de suco de abacaxi. Quase no fim. Talvez por isso, eu quisesse tanto urinar. Uns dez intermináveis minutos depois:

- Rafa... você fez xixi?
- Não, professora! Eu não!
- Então que cheiro é... Rafa!... você fez xixi!
- Não, professora! Não fiz! Eu juro!
- Rafa, não precisa ter vergonha... vamos, eu vou no banheiro com você.

E foi aí que peguei trauma de mulheres mais velhas.
E de planetários.
E peguei alergia a abacaxi. Sempre que tomo suco da fruta, ou como um pedaço, minha língua fica cheia de carocinhos e ardendo, como se fossem aftas.

Mas, ainda bem que perdi o trauma de mulheres mais velhas. Agora, eu as amo.
Ainda não gosto de planetários. Nem do sol eu gosto muito.
E também nunca tive carocinhos de alergia no pau, o que ajudou bastante.

* pergunta feita pelo psicólogo que eu tive, uns 8 anos atrás.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial