terça-feira, julho 14, 2009

H1N1, preconceito, pé no peito

Hoje eu me senti um ser castigado pelos deuses. Aqueles mesmos deuses de séculos atrás que inventaram as vacas e a penicilina, por exemplo. No balanço suave e confortável a caminho da Rebouças, calma avenida paulistana, ouvi na BandNews FM: "Confirmada a terceira morte pela gripe suína no Brasil". Porra, eu havia saído de casa a pouco mais de 40 minutos, e ainda eram duas vítimas fatais! Me lembrei da época do pavor pela Aids, Ebola, URV. Quando o frenesi é grande demais, normalmente, o orgasmo é coisa de menos. Nada me convence que uma gripe comum - mas que tem origem, até então, tida como novidade -, pode matar um caboclo. Ora bolas, se dizem que as pessoas que vieram a falecer tinham problemas neurológicos e/ou cardíacos, dá para entender que qualquer ferroada de marimbondo os derrubasse. Morbidez a parte, ainda esperava meu ônibus.


Vi aquela bela carcaça azul e branca se aproximando, "Vila Gomes". Beleza, ia chegar uns 20 minutinhos antes, jogar para dentro da guela um pão com manteiga, café e fumaça. Quando ia subindo no coletivo, me deparei com uma imagem perturbadora: um senhor, no alto dos seus cinquenta e poucos anos, negro, de boné, quase dormindo próximo a porta de embarque e... usando uma máscara. Aquela linha devia passar próximo ao Hospital das Clínicas, pensei. Ele poderia estar com sintomas da nova gripe. Eu poderia pegar! Abortei o embarque e aguardei mais cinco minutos por um transporte menos infectado, menos óinc-óinc.

Bastaram meia hora na cadeira do trabalho para meu nariz começar a entupir. Pouco depois, a coriza. Eu até hoje não entendo como um buraco entupido pode vazar algo, mas é a fisiologia humana. De supetão, me lembrei de Beavis e seus válidos questionamentos: "Se eu arrancar minhas glândulas mucosas, nunca mais vou produzir ranho?". E eu já cogitei essa possibilidade diversas vezes. Era impossível aguentar. Ia ao banheiro a cada cinco minutos, assoava o nariz, voltava à mesa, e ele voltava a escorrer. Para piorar, soquei a mão no vidro que cobre minha bancada, abrindo um rasgo no mindinho. Legal. Agora eu podia arrancar parte do meu nariz e ser feliz, arrancar o dedinho e virar presidente (piada velha e tosca, estou mal, não pensei em nada melhor).

Resolvi que iria apelar para água benta Aturgyl. Isso sempre me fez bem, sou quase um viciado, no melhor estilo House de ser. Nada, não adiantava lutar. Fiquei das 8:30 às 18h trabalhando e gotejando, entre espirros suicidas e fungadas asquerosas. Foi igual no ônibus da volta, no trem, em casa e agora, ainda.

Ou seja, a máxima ainda vale:
"Pimenta no cu dos outros é refresco".


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4 Comentários:

Às 14 de julho de 2009 às 22:09 , Blogger Fernanda disse...

Você é mto besta de rejeitar o Vila Gomes (popular VG). Ele é sempre o mais vazio (ou menos cheio, dependendo do horário), com os motoristas mais insanos (vc sempre chega mais rápido ao destino) e sempre rende as melhores histórias pra blogs. Só o Artur deve ter uma coleção delas. Seu post poderia ter ficado mto melhor. Perdeu, prayboy.

 
Às 15 de julho de 2009 às 07:47 , Blogger Carol Machado disse...

naridrin. fica a dica.

 
Às 16 de julho de 2009 às 11:06 , Blogger Artur Palma disse...

Vila Gomes tem o cobrador-metroviário que dorme e só acorda entre as estações para berrar o nome do ponto.

 
Às 16 de julho de 2009 às 15:22 , Blogger Rafael Magalhães disse...

Em questão de horas, mais seis mortes pelo vírus. Cinco só hoje, dia 16. MEDO.

 

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