domingo, janeiro 06, 2008

Tênue

Tênue

Preparando o psicológico para começar a trabalha "de verdade", nessa segunda-feira, algo me desviou a linha de pensamento. Cheguei de uma balada, muito boa com meus amigos, por volta das 7 da manhã. Levei uma cacetada no nariz, graças a uma barra de ferro no meio da calçada e de minha falta de atenção, que me tirou o bom humor e me deu ainda mais sono. Acordei pouco antes das 13h, com a casa vazia. Mãe, pai, cachorro, ninguém presente. Como é de costume, peguei meu copo de refrigerante, meu cigarro e me sentei no sofá, ao lado da janela. Antes de bater a primeira cinza para fora (sim, péssimo hábito, eu sei), notei que umas 20 pessoas se aglomeravam na entrada do meu prédio. Gente cabisbaixa, triste. Estranhei, mas não me interessei em saber o motivo. Meu pai chegou com o cachorro e me contou o que estava acontecendo: uma garota, que mora aqui no condomínio, foi dormir na casa da amiga ontem e, pela manhã, durante o banho, desmaiou e engasgou com o próprio vômito. Não acordou mais.

Logo que aconteceu, chamaram meu pai, que foi correndo ao quarto andar do meu prédio onde ela estava, fez a massagem cardíaca e respiração boca-a-boca por 10 minutos, antes que o Resgate chegasse. E eles chegaram. Repetiram o procedimento por mais 20 minutos. O médico da unidade, quando perguntado o que fazer com o desfribilador e o balão de oxigênio, apenas balançou a cabeça e disse que não havia nada mais a fazer. Segundo comentam, a garota, catorze anos, estava passando mal desde a noite passada. Enjoada com freqüência, sentindo cólicas. A mãe deu um chá para ela, antes que fosse dormir na casa da amiga. Pela manhã, ainda passando mal e agora com diarréia, foi tomar um banho e desmaiou no chuveiro. Daí pra frente, eu já contei. Meu pai chegou em casa ensopado de refluxo, com o rosto e aquele bigode tradicional também sujos. Tomou o banho, escovou os dentes e fez um gargarejo... acabou.

O dia todo foi grande movimento em todo o condomínio. Todo mundo comentando do assunto, cuspindo teorias: ela estava grávida; ela estava bêbada; pode ter sido drogas. Minha mãe ficou na casa da vizinha, onde ocorreu o fato pela manhã e boa parte da tarde. Segundo ela, consolando a mãe da garota e a vizinha que, evidentemente, estava traumatizada. Não entendo ao certo o porquê dessa necessidade que as pessoas têm de solidarizar algo incosolável, mas é esse o motivo do post de hoje. Eu não senti nada sobre isso. Talvez eu até conheça a garota que morreu, não sei, de verdade. Mas ao ver o entra e sai do prédio o dia inteiro, as pessoas esperando a chegada da polícia científica e IML, as rodinhas de conversas desnecessárias... talvez eu não tenha a mesma facilidade de encarar com tanto pesar uma coisa dessas, mas... quem sabe?

Bizarro, se é que cabe a palavra, é perceber que é a segunda morte trágica no quarto andar do meu prédio. Mais bizarro ainda, ser no mesmo apartamento. Seis anos atrás, acho, alguém esqueceu umas velas acesas na casa, o marido bêbado dormiu e as cortinas fizeram o resto do estrago. Bem, pode ser apenas coincidência (e eu espero que seja).

Fica aqui os parabéns para meu pai, que tentou de todas as maneiras salvar a garota, os votos de serenidade a família e amigos, e o desejo de um dia saber o porquê eu não conseguir mais ver desespero em algo tão inaceitável e irreversível.

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